Feedback

Psicologia baseia parte de sua técnica na comunicação ao paciente dos aspectos mais significativos de seus conteúdos, a psicóloga oferece devoluções necessárias que chamamos feedbacks. Algo como receber o retorno daquilo que entregou para compreender melhor os comportamentos muitas vezes inconscientes, repetições de padrões ou modos de funcionamento embasados em ativações emocionais, às vezes negativas. 

As distorções e as projeções são exemplos de mecanismos utilizados pela pessoa que podem ser esclarecidos na psicoterapia quando há disposição para recebê-los.

Porém, também fora do setting terapêutico o feedback pode e deve aparecer, como nos relacionamentos e no trabalho. Ainda que seja pouco frequente. Combinar sinceridade, sensibilidade e sensatez é um desafio e pela insegurança entre os três muitas pessoas se calam quanto a observações ou contribuições pertinentes que poderiam oferecer com olhar externo a nós. Isso acontece porque é comum a resistência e até agressividade advinda de uma crítica, como se a integridade da pessoa fosse questionada, como se ouvir o ressoar do que emanamos fosse doloroso e ameaçador demais para ser acolhido. 

Um dos motivos porque isso ocorre é cognitivo. Nosso cérebro é adaptado evolutivamente para reconhecer riscos e interpreta a crítica como desaprovação, em tempos remotos isso podia ser motivo de descarte ou abandono por parte do bando. Manter o “status quo”, a aparência de perfeição era garantia de vida, assim como o sorriso social ofereceu na adaptação garantia de melhores cuidados aos recém nascidos até se tornar um traço comum a qualquer bebê da atualidade. O desejo de agradar e receber aprovação vem da evolução e pode ser dito como instintivo. Nessa preservação de espécie o cérebro interpreta como ameaça o desagrado, risco de rompimento e foca no negativismo da desaprovação com tanta força que aciona emoções como medo (que é sinal de perigo eminente) ou raiva (que é sinal de necessidade de defesa à algum ataque). Em geral acionada por medo ou raiva a pessoa tende a reação de luta ou fuga que é se defender, se justificar e muitas vezes contra-atacar (devolvendo as críticas e incluindo outras em relação a quem falou) ou fuga que é desfocar da situação e fugir dela, evitando o assunto ou a pessoa. Quando resumimos nossa reação ao acionamento básico de luta ou fuga, perdemos a oportunidade de evoluir e crescer com o que foi apontado para nós.

Seja na terapia ou fora dela nas relações profissionais e pessoais, receber feedback é um presente. Há necessidade de exercitar a humildade e a maturidade para acolher o que vêm para nos oferecer outro olhar sobre nós, uma possibilidade de saída da zona de conforto e sobretudo um convite a evolução. 

Que tal substituir um “não te mete” ou “cuida da tua vida” por “vou pensar sobre isso” ou “obrigada por me dizer o que percebeu em mim” ?

Psicóloga Aline Dutra (CRP 07/16772)